«Após seis dias de navegação em alto mar, quase dois mil quilómetros percorridos e muitos enjoos, o "Creoula" atracou sábado no porto de Ponta Delgada, Açores, com noventa pessoas a bordo ansiosas por pisar terra firme. Meia centena de alunos e investigadores das universidades Lusófona, dos Açores, do Algarve e do Porto, mais quarenta membros da tripulação saíram domingo de Lisboa com uma missão: chegar à Ilha de São Miguel, nos Açores.
A bordo, os instruendos (aprendizes) participam tal como a tripulação no desempenho das tarefas diárias do navio, não fosse um dos objectivos do "Creoula", utilizado como Navio de Treino de Mar (NTM), aproximar a sociedade civil da vida marítima.
O aviso de alvorada ecoa pelo "Creoula" logo pelas 07h00 e pouco depois todos participam na Faina Geral de Mastros, sempre que é preciso içar, arrear ou alterar a direcção das velas, a que se seguem as limpezas no navio. Além destas tarefas, os aprendizes, à semelhança da tripulação, são divididos em grupos e escalados para trabalhar em regime de "quartos" (durante quatro horas) em tarefas tão variadas como a confecção de alimentos, vigilância ou cálculos de navegação.
A expedição até aos Açores durará ao todo vinte dias e o navio, que está na sua lotação máxima, oferece todas as condições de segurança, segundo garantiu à Lusa o "braço direito" do comandante, Rodrigo Castro.
O navio possui oito jangadas salva-vidas, cada uma com capacidade para vinte pessoas, um total de 160 lugares, o que excede a lotação máxima, que é de 92 pessoas, afirmou o oficial logo no "briefing" de boas-vindas, para tranquilizar os mais receosos. "As jangadas são uma espécie de tendas flutuantes munidas de apetrechos de sobrevivência tais como barras de glucose, água potável selada e até linhas de pesca", que servem para os náufragos "se distraírem" em caso de acidente.
Para Frederico Serradas, aluno do 4º ano do curso de Química da Universidade Lusófona, foi o desafio e a aventura que o fizeram embarcar no "Creoula", experiência que quer aproveitar ao máximo. "Estou a adorar porque todos os dias há algo de novo e mesmo o facto da viagem durar tanto tempo não está a torná-la monótona", sublinha o estudante, de 27 anos.
Para animar as hostes, a organização preparou palestras científicas e passatempos, desde concursos de cultura geral a aulas de ginástica ou de nós e até "workshops" de mergulho. "A nossa principal preocupação tem sido manter a moral das tropas em cima durante a viagem até aos Açores, porque no regresso haverá novidades todos os dias e muito trabalho para fazer", refere Frederico Almada, professor da Lusófona e coordenador da expedição.
Ana Margarida Carvalho, "repetente" nas viagens científicas do "Creoula", aplaude a iniciativa, que diz juntar o "útil ao agradável", pois ao mesmo tempo que está a aprender tem oportunidade de se divertir e conviver com colegas de outros cursos. A aluna do 3º ano do curso de Biologia da Universidade Lusófona vai ter uma frequência prática a bordo do "Creoula" e está entusiasmada com o facto de poder aprender "in loco" matérias habitualmente dadas nas salas de aula.
Durante a viagem de regresso a Lisboa, cuja chegada está prevista para o dia 02 de Junho, os alunos e investigadores envolvidos na missão terão com que se entreter: identificar e analisar o material recolhido durante os mergulhos.
Além dos objectivos científicos, que passam por recolher e analisar organismos marinhos com interesse ao nível da Indústria e Biomedicina, entre outros objectivos, a missão, organizada pela Universidade Lusófona, tem também uma componente pedagógica e de conservação da natureza.»
in «AÇORIANO ORIENTAL», 19-05-2007, por Marta Duarte/Lusa
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