sábado, 24 de novembro de 2007

Marinha evoca 200 anos da partida da Familia Real Portuguesa para o Brasil

(Nascer do Sol retratado por Raquel Sabino Pereira a bordo do Creoula, em Agosto de 2004)

Lisboa, 24 Nov (Lusa) - A Torre de Belém, que há 200 anos assistiu à partida da família real portuguesa para o Brasil fugindo à invasão das tropas francesas de Napoleão Bonaparte, foi hoje cenário da evocação da ocasião, com uma cerimónia militar com as armadas portuguesa e brasileira.

Promovido pela Marinha Portuguesa, o acto contou com a presença dos ministro da Defesa Nacional, Nuno Severiano Teixeira, dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado, do chefe de Estado-Maior da Armada portuguesa, almirante José Ribeiro de Melo Gomes, e do comandante-geral do Corpo de Fuzileiros Navais do Brasil, almirante Álvaro Augusto Dias Monteiro. Durante a cerimónia foram condecorados os Estandartes do Comando-Geral do Corpo de Fuzileiros Navais do Brasil e do Comando do Corpo de Fuzileiros de Portugal, desfilaram a Banda da Armada, o Bloco de Estandartes Nacionais, o Colégio Militar, a Escola Naval, a Força de Fuzileiros representativa das Brigadas Reais de Portugal e do Brasil (uniformizados à época), e o Batalhão de Fuzileiros.

No Tejo, em frente à Torre de Belém, estiveram fundeados a fragata Niterói da Marinha do Brasil, a fragata portuguesa Álvares Cabral e o navio [Creoula].
O embarque da família real portuguesa para o Brasil teve lugar em 24 de Novembro de 1807, quando tropas invasoras francesas já se encontravam em Abrantes e Napoleão Bonaparte afirmava que a Casa de Bragança tinha deixado de reinar em Portugal. Napoleão conquistara todos os países da Europa, à excepção de Portugal, tendo imposto um bloqueio naval aos portos franceses e ingleses, aos quais apenas a costa portuguesa podia valer. O embarque realizou-se no tempo recorde de 48 horas, implicando a partida do rei D. João I, de toda a família real e da sua corte, com a transferência de mobiliário, arquivos, e toda a volumosa documentação necessária à gestão do Reino, para além de quase todo o tesouro público. A esquadra, apesar de contrariada por ventos contrários, saiu da barra em 29 de Novembro, 18 horas antes da entrada de Junot em Lisboa. Constava de oito naus, quatro fragatas, 12 brigues e uma galeota, acompanhada de 31 navios mercantes com mais de 15.000 pessoas e algumas escunas. Nos 65 navios que zarparam do cais de Belém com 15.000 pessoas a bordo seguiram a família real de D. João I, a corte e as elites científicas, militares e culturais do país, naquela que foi classificada hoje pelo chefe do Estado-Maior da Armada, almirante Fernando Ribeiro de Melo Gomes, como "a maior operação logística jamais realizada em Portugal, que hoje se designa por mobilidade estratégica". Quando o general Junot entrou em Lisboa à frentes das tropas francesas já só conseguiu observar, ao longe, a esquadra portuguesa. Os franceses perdiam assim a primeira cartada: não aprisionavam a família real nem se apoderavam da esquadra portuguesa. Por outro lado, a capital do Reino era transferida para o Brasil, conjugando a governação simultânea do Reino e do Império, retirando aos franceses a legitimidade de se poderem arrogar como novos e legais governantes do país. D. João deixou ordens para que não houvesse resistência aos invasores, evitando o inútil derramamento de sangue e deixou nomeada uma Junta de Governo encarregada de garantir o funcionamento do território com instruções para colaborar com Junot. A invasão francesa prolongou-se de 1807 a 1815.
Fonte: Agência LUSA