quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Jovens de nove países europeus a bordo de antigo navio de guerra português

«A associação H20 está ao leme de um projecto que traz jovens de toda a Europa para conhecer um antigo navio de guerra português.

Aprender a mexer no leme de um navio e ajudar na condução de motores e na vigilância são apenas algumas das tarefas a executar pelos 52 jovens que participam num intercâmbio ao nível europeu liderado pela H2O, uma associação juvenil de Arrouquelas, Rio Maior. Durante cinco dias os jovens, entre os 16 e os 25 anos, provenientes de Espanha, Itália, Polónia, Roménia, Hungria, Bulgária, Letónia, Estónia e Portugal vão viajar a bordo do Creoula, antigo navio de guerra português.
A iniciativa insere-se no projecto organizado pela associação e co-financiado pela União Europeia (UE) através do programa “Juventude em Acção”. A ideia partiu de Alexandre Jacinto, responsável da H2O, que quis aproveitar a presidência portuguesa na UE para desenvolver um projecto original no nosso país. Os 16 anos que leva como enfermeiro militar da marinha portuguesa foram fundamentais para a concepção e realização deste projecto que a H2O classifica como sendo o mais arrojado e criativo de sempre.

A vida a bordo de um navio tem características únicas, nomeadamente na vivência em grupo num espaço limitado. Para o sucesso da experiência é necessária a boa integração de todos os elementos, a tolerância e o trabalho de equipa. São estes valores que pretendemos desenvolver e intensificar durante esta jornada”, diz. Os jovens terão contacto com várias culturas e maneiras de pensar. “Acredito que depois de 11 dias de experiência única serão jovens diferentes do ponto de vista cultural e humano”, garante o enfermeiro.

Os contactos para a cedência do Creoula começaram no final de 2006. Assim que recebeu resposta positiva por parte do governo português a associação começou a divulgar o projecto. Era necessário contactar associações de jovens de outros países. Alexandre Jacinto e o grupo de jovens que compõem a H2O não conseguiam esconder a entusiasmo e o nervosismo por terem a possibilidade de organizar um projecto de tamanha dimensão. O projecto foi tão bem recebido pelas associações europeias, que receberam cerca de 60 candidaturas de colectividades a quererem participar. A H2O ficou espantada e, ao mesmo tempo, orgulhosa da enorme receptividade. Mas o navio só tem capacidade para 52 jovens o que implicou uma selecção de participantes. “Vieram os que responderam primeiro”, explica o responsável.

Dia 20 é o momento alto do intercâmbio que teve início na terça-feira com a chegada dos jovens. O Creoula parte esta quinta-feira do cais de Lisboa com destino a Portimão, no Algarve, onde deverá chegar na tarde de sábado. Durante os dias de viagem vão realizar-se vários workshops sobre Suporte Básico de Vida e até folclore. Com o objectivo de mostrar a cultura de todos os países participantes cada grupo vai realizar, nas ruas de Portimão, um pequeno apontamento cultural alusivo ao seu país. No dia seguinte os jovens voltam para Lisboa. E no último dia de viagem visitam Arrouquelas onde vão poder contactar com a população e contar-lhes a experiência vivida nos últimos dias.»

Fonte: Ana Isabel Borrego, in [O Mirante]

terça-feira, 18 de setembro de 2007

«Nove países a bordo do "Creoula" - Cinquenta e dois jovens em intercâmbio fazem paragem em Portimão»

O Veleiro da Marinha de Guerra Portuguesa “Creoula” traz a bordo, a partir de hoje, 18 de Setembro, cinquenta e dois jovens de nove países europeus, que vão chegar a Portimão no próximo dia 22 de Setembro às 15:00 horas, numa iniciativa organizada pela H2O-Associação de Jovens de Arrouquelas. Esta acção beneficia do Alto Patrocínio do Gabinete do Primeiro-Ministro José Sócrates e da representação da Comissão Europeia em Portugal, assim como da participação do velejador Ricardo Diniz, embaixador Europeu dos Oceanos, no âmbito do Livro Verde do Mar.
Integrados no projecto “European Citizenship...By the Sea we Learn”, trinta raparigas e vinte e dois rapazes, com idades compreendidas entre os 16 e os 25 anos, participam num intercâmbio multilateral, através de nove Organizações Não-Governamentais. Durante cinco dias no mar e seis em terra, os participantes serão envolvidos em actividades diversificadas e originais, algumas delas a bordo do navio “Creoula”, que será o ponto alto deste intercâmbio. O velejador Ricardo Diniz, que tem uma participação activa nesta iniciativa, embarca junto com os jovens.

Fonte: [Região Sul]

«Projecto de intercâmbio leva jovens da UE a bordo do Creoula»

Meia centena de jovens de nove países europeus participam, a partir de hoje, num projecto de intercâmbio que os levará numa viagem, de Lisboa a Portimão, a bordo do veleiro da Marinha de Guerra Portuguesa Creoula.

Promovido pela Associação de Jovens H2O de Arrouquelas, freguesia do concelho de Rio Maior, o projecto «European Citizenship... By the Sea we Learn» envolve 53 jovens com idades compreendidas entre 18 e os 26 anos que vão passar, em Portugal, seis dias no mar e quatro em terra.

Alexandre Jacinto, presidente da direcção da H2O, disse hoje à agência Lusa que o projecto, que conta com o patrocínio da Representação da Comissão Europeia em Portugal, representa um desafio para a associação, que desde há cinco anos se envolveu no programa «Juventude em Acção», promovendo numerosas actividades internacionais. «Colocámos como desafio fazer uma coisa diferente de todas aquelas em que temos participado, pelo que, aproveitando a presidência portuguesa da União Europeia, candidatámos este projecto», que contou com o apoio da Marinha de Guerra Portuguesa, disse.

Os jovens, provenientes de Espanha, Itália, Polónia, Roménia, Hungria, Bulgária, Letónia, Estónia e Portugal, vão ser recebidos quarta-feira pelo presidente da Assembleia da República, Jaime Gama, e pela Comissão Parlamentar de Assuntos Europeus, seguindo-se um passeio pela cidade de Lisboa, onde ficarão até sexta-feira. Nesse dia, os jovens vão juntar-se aos 40 tripulantes do Creoula, ficando a conhecer as tarefas que irão realizar nos seis dias a bordo - limpezas, cozinha, vigilância, operação de equipamentos electrónicos, leme, entre outras, incluindo algumas de carácter pedagógico.
Segundo Alexandre Jacinto, o projecto tem vindo a despertar inúmeras manifestações de interesse, tanto da parte de entidades oficiais como de meios de comunicação social, nomeadamente da EuroNews, que deverá ter uma equipa com os jovens a bordo do Creoula.
A tarde e noite de sábado serão dedicadas a uma «Mostra da Europa», a realizar numa praça de Portimão, onde cada uma das organizações participantes fará uma representação (teatro, dança ou música) de um tema relacionado com a Europa.
A mostra incluirá stands da Europe Direct, da Comissão para a Cidadania e Igualdade do Género/Ano Europeu da Igualdade de Oportunidades e de várias associações e um workshop sobre o Livro Verde do Mar, com a presença do velejador solitário Ricardo Diniz, nomeado embaixador europeu dos Oceanos.
Os jovens ficarão ainda dois dias no concelho de Rio Maior, onde participarão na aplicação de um inquérito à população, que vai testar o conhecimento de questões europeias, disse.

Frisando a importância da consciencialização das populações para as questões europeias, Alexandre Jacinto referiu a importância da actividade que a H2O tem vindo a desenvolver na criação de dinâmicas numa pequena freguesia (900 habitantes).
Criada há 10 anos, a associação conta com 50 jovens associados, mas «envolve muitos mais nos projectos que promove nas escolas» e nas actividades que realiza no concelho e no distrito de Santarém, adiantou. Enfermeiro militar, Alexandre Jacinto encara o seu envolvimento na vida associativa como um hobby, considerando «um privilégio» contribuir para a formação dos jovens.

Fonte: [Diário Digital]

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

CREOULA : 70 ANOS DE TRADIÇÃO

Em Portugal, a história tem navegado de braço dado com os navios desde sempre. O nosso passado e cultura marítima só tiveram os contornos que conhecemos pela existência dessas criaturas, quantas vezes esquecidas, designadas por navios.
Apesar de hoje parecermos mais um País a “ver navios” do que uma terra de marinheiros, os navios continuam a fazer parte integrante da realidade portuguesa contemporânea, com alguns particularmente famosos por aliarem a tradição passada a um presente que se quer aproado ao mar.
Lançado à água nos Estaleiros Navais do Porto de Lisboa há 70 anos, o lugre CREOULA é um desses navios famosos a justificar admiração e orgulho. Admiração pela beleza das suas linhas simples, a lembrar um cisne dos mares. Orgulho pelos serviços relevantes que, mercê de uma boa estrela, o navio vem prestando desde 1937 ao País.

UMA HISTÓRIA FASCINANTE

O CREOULA, que este Verão navegou no Mediterrâneo com jovens portugueses em treino de mar, tem uma longa história.
Foi construído em Lisboa nos antigos estaleiros da Rocha do Conde de Óbidos, então arrendados pelo Porto de Lisboa à CUF – Companhia União Fabril, do industrial Alfredo da Silva. Destinou-se a uma empresa pioneira na pesca do bacalhau, a Parceria Geral de Pescarias, Lda., então propriedade do Armador Sr. Vasco Bensaude e de facto fez 37 campanhas anuais de pesca aos míticos bancos da Terra Nova e Gronelândia entre 1937 e 1973.
Não ficaria por aqui o contributo do CREOULA para a nossa história marítima contemporânea. A qualidade e originalidade da sua construção e o facto de ter sido sempre mantido em excelentes condições pela empresa armadora fizeram logo despertar o interesse de estrangeiros no sentido da sua transformação para cruzeiros turísticos, como aconteceu ao lugre ARGUS, mas o seu valor patrimonial foi reconhecido pelo Estado, que obrigou o armador à cedência do CREOULA por um valor simbólico.
Nas mãos do Estado desde 1979, pensou-se de início em preservar o CREOULA como museu das pescas, adaptando-o para utilização estática. Felizmente o excelente estado do casco levou o então Secretário de Estado das Pescas, Eng. José Carlos Gonçalves Viana, um dos poucos Governantes das últimas décadas com conhecimentos e respeito pelos navios e sua importância, a alterar o projecto, promovendo a transformação do CREOULA para navio de treino de mar, isto é, navio-escola de vela destinado a embarcar jovens para períodos de familiarização com a vida a bordo e no alto-mar.
A ideia teve concretização feliz, e o CREOULA foi modernizado e alterado em Lisboa nos estaleiros Parry & Son, sob a direcção de um dos comandantes mais ilustres do tempo da Parceria, o Sr. Capitão António Marques da Silva. Mantendo a traça original, os espaços anteriormente utilizados para porão do sal e do peixe deram lugar a cobertas para alojamentos adequados ao embarque de 51 instruendos além de uma guarnição composta por 6 oficiais e 32 sargentos e praças.
A renovação do CREOULA ficou concluída em 1987 e foi decidido entregar o navio à Marinha de Guerra Portuguesa, que o recebeu oficialmente no dia 1 de Junho de 1987. Desde então o CREOULA tem navegado graças à dedicação da Marinha que tem sido inexcedível no carinho e interesse com que vem cumprindo desde há já 20 anos as missões associadas ao navio.
Classificado como Navio de Treino de Mar, o CREOULA participa anualmente nas principais regatas de grandes veleiros disputadas em águas europeias, do Báltico ao Mediterrâneo, muitas vezes ao lado desse outro ícone marítimo nacional que é a barca SAGRES. Além dessas regatas normalmente organizadas pela Sail Training Association, o CREOULA tem feito inúmeros cruzeiros na costa portuguesa, ilhas Atlânticas, Terra Nova, Cabo Verde, África do Norte, etc., facultando a descoberta do mar a milhares de jovens.
Alguns desses jovens desenvolveram graças ao CREOULA uma verdadeira paixão pelo mar, embarcando sucessivamente ano após ano no navio.

MUSEU VIVO

Em 70 anos de navegações, o CREOULA tornou-se num museu vivo único no mundo. A traça original de lugre bacalhoeiro permanece como repositório de histórias de um passado recente e quase esquecido. A bordo do CREOULA é possível sentir ainda a dureza das inclemências do mar que todos os anos centenas de pescadores tão corajosos como anónimos enfrentavam sós, nos seus dóris, a remos, na imensidão do Atlântico Norte.
O navio é também memória do ressurgimento da indústria naval ao tempo do Estado Novo. Foi construído em Lisboa, por operários portugueses, oficialmente em apenas 62 dias úteis de trabalho. O lançamento solene ao Tejo foi presidido pelo Chefe de Estado, Marechal Óscar Carmona, na tarde de 10 de Maio de 1937. Para o casco foi utilizado aço da melhor qualidade que havia sobrado da construção de contratorpedeiros.
A construção do CREOULA cifrou-se em 2500 contos, recebendo um subsídio do “Fundo de Desemprego” no valor de 446 contos, apoio repartido com o irmão gémeo SANTA MARIA MANUELA, construído ao lado do CREOULA e lançado ao mar na mesma ocasião.
Terminado o aprestamento e aparelhado em lugre de quatro mastros, o CREOULA saiu para o mar pela primeira vez a 30 de Junho de 1937 rumo aos bancos de pesca da Terra Nova. A bordo seguiam cerca de 50 pescadores, 25 dos quais açoreanos, como era tradição da Parceria Geral de Pescarias.
Exactamente 70 anos depois do bota-abaixo, o aniversário do CREOULA foi comemorado em Lisboa a bordo, numa festa quase de família, promovida pelo Comando do navio e pela Marinha.
O CREOULA estava atracado à Doca da Marinha. Embandeirado festivamente e impecável com o seu belo casco branco e mastros amarelos, parecia tão jovem e cheio de energia como quando desceu a carreira no estaleiro da Rocha 70 anos antes. De entre os convidados, todos os antigos Comandantes ainda vivos, um neto do Armador original e o último Gerente da velha Parceria Geral de Pescarias, entretanto desaparecida. Também antigos instruendos, com destaque para a veterana e grande amiga do CREOULA, Dra. Raquel Sabino Pereira, que detém o recorde de embarques no navio, com 14 viagens desde Maio de 1988, incluindo a participação na Cutty Sark Tall Ships race de 1988 manifestou de forma emocionada a sua ligação ao veleiro, dando um presente ao navio e abrindo um site dedicado à história do antigo bacalhoeiro (http://lmc-creoula.blogspot.com/).
Pouco depois o CREOULA largou para o Atlântico Norte e participou nas comemorações do Dia da Marinha na ilha de São Miguel, estando agora a navegar no Mediterrâneo.
Além do CREOULA foi construído na mesma altura em Lisboa um lugre gémeo, que o Armador Sr. Vasco Bensaude cedeu à família Orey durante a construção. Este navio devia ter-se chamado ARGUS, mas recebeu o nome SANTA MARIA MANUELA e pertenceu à Empresa de Pesca de Viana até ser vendido em 1964 à Empresa de Pesca Ribau, de Aveiro e transformado em navio motor em 1969. O casco foi entretanto recuperado e o SANTA MARIA MANUELA está o a ser reconstruído em Aveiro.
Em substituição do navio cedido à Empresa de Pesca de Viana, Vasco Bensaude mandou construir em 1939 na Holanda o lugre ARGUS, muito semelhante ao CREOULA, com uma série de melhoramentos ditados pela experiência das duas primeiras campanhas de pesca do CREOULA.
O ARGUS foi vendido em 1974 ao estrangeiro e navega nas Caraíbas como veleiro de cruzeiros com o nome POLYNESIA. A dispersão da antiga frota bacalhoeira portuguesa conta ainda com o lugre patacho GAZELA, que foi adquirido por interesses dos EUA e está preservado em Filadélfia.
Em Portugal, o CREOULA continua a navegar e a dar a conhecer o mar a novas gerações de marinheiros. A sua preservação activa é um dos mais positivos empreendimentos marítimos das últimas décadas ocorridos em Portugal, quase uma excepção num quadro pouco marítimo de desinvestimento persistente no que toca ao mar ocorrido na Europa e no nosso País. Mas com o CREOULA a navegar não há lugar para pessimismos desnecessários, mas sim alegria pelo legado dinâmico do navio e esperança num futuro mais próximo do mar, da marinha e dos navios.

Luís Miguel Correia, escrito a 20 de Agosto de 2007 e publicado na revista MAGAZINE GRANDE INFORMAÇÃO, nº 19, edição de Setembro/Outubro 2007, páginas 112 a 119